Lembro de Hilda dizendo “Tenho medo que me pélo” [pode ser mera coincidência, e é ]
“Porque há para nós um problema sério, tão sério que nos leva às vezes a procurar meio afoitamente uma 'solução'; a buscar uma regra de conduta, custe o que custar. Este problema é o do medo. Do medo que nos toma a todos de estarmos sendo inferiores à nossa tarefa; ou de não conseguirmos fazer algo definitivamente útil para o nosso tempo...”
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são
poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino,
incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de
medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos
rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza
traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes,
fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o
amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia
frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos
berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós,
de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam
burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se
todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das
estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas.
Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do
láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e
cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de
medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E
com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de
nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz:
carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras
vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a
frente, recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o
mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
2 comentários:
Salve a sra. pornográfica!
Hilda é tudo. E JZ também.
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